Divina Misericórdia e o Sacerdócio (14)
No
Domingo depois da Páscoa celebra-se na Igreja Católica, por determinação no
Papa Beato João Paulo II como o Domingo da Misericórdia Divina. Antes, este
domingo foi chamado como Domingo “in Albis”, isto é “em branco”, porque neste
domingo, o primeiro da Páscoa, os batizados no Sábado Santo, depunham as vestes
brancas do batismo e revestiam-se nos trajes usuais. Esta tradição proveniente
dos primeiros séculos do cristianismo hoje, perdeu o seu sentido, por isso o
Papa João Paulo II instituiu este domingo como o domingo da Misericórdia
Divina, que mais expressa os frutos da Páscoa do Senhor.
A
partir da Encíclica “Dives in Misericordia” =
“ Deus que é rico em misericórdia”, o culto da Misericórdia Divina
espalhou-se no mundo inteiro. Mais ainda, depois da beatificação e canonização
da Apóstola da Misericórdia Divina a Ir. Faustina Kowalska, a religiosa polonesa,
que teve a revelação para pintar o
quatro de Jesus Misericordioso, com a inscrição “Jesus eu confio em Vós”, este
culto tomou conta do mundo inteiro.
De
fato, este domingo mais se presta para recordar, na perspectiva da Páscoa, a
Misericórdia Divina para com a humanidade.
O
Papa João Paulo II, na Encíclica acima citada sobre a Misericórdia Divina,
dedica um capítulo inteiro refletindo a misericórdia divina no Mistério
Pascoal. Lembra a todos, a Misericórdia divina revelada na Cruz e na Ressurreição
de Jesus. Diz o Papa: “O mistério pascal é Cristo no momento mais alto da
revelação do imperscrutável mistério de Deus. E precisamente então que se
verificam plenamente as palavras pronunciadas no Cenáculo: "Quem me vê, vê
o Pai". De fato, Cristo a quem o pai "não poupou" em favor do
homem e que na sua paixão e no suplício da cruz não encontrou a misericórdia
humana, na sua ressurreição revelou a plenitude daquele amor que o Pai nutre
para com ele e, nele, para com todos os homens”.
E
afirma o Papa mais adiante que, “Cristo pascal é a encarnação definitiva da
misericórdia, o seu sinal vivo: histórico-salvífico e, ao mesmo tempo, escatológico.
Neste mesmo espírito a Liturgia do tempo pascal coloca em nossos lábios as
palavras do salmo: Cantarei para sempre as misericórdias do Senhor. Sl 89”(Dives
In Misericordia 8).
A
misericórdia Divina contemplamos também na Ceia do Senhor, quando ele institui
a Eucaristia para estar convoco para sempre: “Eu estarei convoco todos os dias
até o fins dos tempos” (Mt 28,29). Institui a Eucaristia, sinal permanente da
sua misericórdia, esperando sempre por
aqueles que o querem encontrar na Eucaristia. Manso, paciente e Misericordioso
abre o seu coração para nos escutar e atender.
Mas
para que não nos falte a Eucaristia, institui também o sacerdócio. Os sacerdotes
são homens escolhidos por Deus e colocados para o povo para serem instrumento de
Deus e mediadores entre Deus e o povo. A
essência do sacerdócio consiste na celebração da Eucaristia. No altar, quando o
sacerdote celebra a Santa Missa ele age em pessoa do próprio Jesus Cristo e realiza
este grande milagre que Jesus fez na última ceia, transformando o pão no Corpo
de Cristo e o vinho no seu sangue. O Mistério inaudito, mas é real. Ai está a
grandeza de cada sacerdote. O sacerdote pode até ser um pecador, mas quando age
no altar em pessoa de Cristo, realiza a Eucaristia. De novo, o mistério
inaudito, mas real.
Precisamente
na véspera do Domingo da Misericórdia a Diocese de Itabuna se alegra com a
grande graça de Deus de receber mais um sacerdote.
No dia 14 de abril será ordenado sacerdote, o diácono Esequias Gonçalves dos Santos.
A ordenação acontecerá na Paróquia de Uma, a paróquia natal do neo-sacerdote. A
celebração será presidida pelo bispo diocesano, Dom Ceslau Stanula com a
presença de numerosos padres e leigos. A Comunidade de Uma está vibrando de
alegria, porque é o primeiro sacerdote que sai desta comunidade. A comunidade
da qual provem o sacerdote é a comunidade privilegiada e abençoada por Deus.
A
Diocese parabeniza ao neo-sacerdote e deseja o frutuoso trabalho pastoral entre
o povo de Deus. “ Tu es Sacerdote para
sempre” para não faltar a Eucaristia, o sinal visível da Divina Misericórdia.
Dom Ceslau Stanula CSsR
Bispo Diocesano
Cristo Ressuscitou – Páscoa (13)
Após a Quaresma vivida em profunda meditação da Paixão,
Morte de Cristo chegou o dia mais solene da cristandade em que se celebra a
Ressurreição de Jesus. A Semana Santa nos permitiu aprofundar mais os acontecimentos
vividos pelo Povo de Deus que prefiguram a Páscoa de Jesus. Para entender
melhor a Páscoa vejamos a origem da mesma.
O
termo “páscoa” é a transcrição grega e latina do original hebraico “pesah” e do
aramaico “pasha” que remetem ao verbo “pasah”, que significa “passar”, “saltar”.
A
celebração da festa da Páscoa está no centro da experiência do povo do Antigo
Testamento, porque constitui o memorial do acontecimento
fundador da história do povo de Deus que foi o êxodo do Egito e a aliança
com Deus, que auto-comunicou o seu nome como Iahweh, que significa: aquele que É, e como sinal tangível de sua presença no meio de seu
povo.
O
Deus apresentado na Bíblia do Antigo Testamento é um Deus que está próximo do
povo, que caminha com o povo, mas que ao mesmo tempo em que é o Deus, Ele está
acima do tempo e do espaço. O nome de Deus como Iahweh, foi revelado pela
primeira vez a Moises. (Ex.6, 2-3)
A
celebração do rito pascal, tal como nos transmite o livro do Êxodo (cf.
12,1-13; 16), reúne dois ritos procedentes, de fontes distintas: o rito da
imolação do cordeiro primogênito, que constituía uma festa dos pastores, que na
primavera aspergiam com o sangue de um cordeiro as vigas de suas tendas, para
proteger os homens e os animais dos espíritos maus; é o rito dos pães ázimos,
rito agrícola da primavera, em que os camponeses ofereciam os primeiros frutos
de suas colheitas. Estes dois ritos arcaicos ficam unificados e situados no
contexto histórico-salvífico do êxodo do Egito e do estabelecimento da aliança
com Iahweh. Desta maneira, o antigo rito nômade do cordeiro se converte no
sinal e no rito memorial da passagem do povo da escravidão do Egito para a
liberdade. Com efeito, a série de
prescrições que são dadas no livro do Êxodo é concluída com a solene declaração:
“É a páscoa do Senhor (...). Este dia será para vós um memorial. Vós o celebrareis
como festa do Senhor, de geração em geração o celebrareis como rito
perene" (Ex 12,11.14). Jesus confirma estes ritos do Antigo Testamento e
lhes da um verdadeiro significado.
Dentro
desta perspectiva, Jesus se identifica com o Cordeiro pascal que, sacrificado,
dá a vida aos homens, que toma sobre si os pecados da multidão. Enquanto a
Páscoa se converte na passagem de Jesus deste mundo ao Pai (cf. Jo 13,1), ao
mesmo tempo para o Povo de Deus, na passagem da escravidão para a liberdade. Tudo
isto se expressa claramente nas palavras do pão e do vinho: o pão se converte em
seu Corpo, em sinal do dom da vida: o vinho, no seu Sangue, é o instrumento da
comunhão entre Deus e os homens. À luz da última ceia, por conseguinte, o
acontecimento pascal de Jesus adquire o significado especial do estabelecimento
definitivo da nova aliança e da chegada do reino de Deus anunciada por ele.
Possui também significado da plena auto-comunicação de Deus com os homens.
Revela o amor de Deus, e ainda mais, o próprio Deus que é Amor. (“Jesus, depois
de haver amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”: (Jo 13,1). (Veja
Dicionário Teologico – o Deus Cristão – Pascoa – Paulus 1998).
Depois
desta exposição teológico-bíblica da Páscoa olhemos a nossa realidade
cotidiana.
Páscoa
nos nossos tempos também deve ser a passagem da escravidão das amarras deste
mundo para a liberdade de filhos de Deus. A Campanha da Fraternidade 2012 nos mostrou, que infelizmente muitos Filhos de
Deus ainda não vivem a sua dignidade de pessoas humanas, porque as
amarras do pecado em que está envolvido este mundo não lhes permite ser livres. Apesar de que existem
muitos planos, e organizações de saúde, com os melhores princípios, como SUS,
por exemplo, e que deviam garantir a vida para muitas pessoas, isto não
acontece. A causa de tudo é o pecado da
ganância e corrupção, que ainda espera a redenção (conversão), não de Deus, mas
dos homens. Jesus da sua parte fez tudo, morreu por todos, mostrou o caminho da
salvação a todos, para que todos tivessem a vida e a tivessem em abundância (Cf.
Jo.10,10). A CF durante toda a Quaresma nos lembrava o texto da Sagrada Bíblia:
“Para que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo 38,8). O que se conseguiu com
ela? Será que os governos realmente apliquem do dinheiro dos impostos para a causa mais vital que pode existir neste
mundo que é a saúde?
Jesus morreu na cruz, para que nós tivéssemos a
vida. Itabuna desde o início do ano 2012 já teve mais que 50 mortes
matadas!!!!!!!!! Até quando estaremos vivendo nesta escravidão do medo, da
insegurança e da violência? Os índices de violência, de modo especial entre os
jovens em Itabuna, ultrapassam todos os possíveis e toleráveis índices neste
mundo! Até quando! Quando por fim chegue para nós o dia da PÁSCOA, a LIBERTAÇÂO
desta escravidão?
Jesus
fez já tudo o que dependia dele, agora é a nossa vez. A Salvação que Jesus nos
mereceu não consiste só na vida feliz, depois
da morte, mas também na vida digna neste
mundo. E isto depende agora só de nós! Jesus Cristo nos mostrou o caminho e
nos deu o exemplo como consegui-la. Infelizmente muitos criaram os seus deuses:
deus da economia, deus do poder, e estes
deuses não salvam! Sou a voz que clama no deserto!
Para
todos os nossos leitores da coluna Voz que Clama e a todos de boa vontade
desejamos uma feliz e Santa Páscoa.
Dom Ceslau Stanula CSsR
Bispo de Itabuna.
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Campanha da
Fraternidade 2012 e “Assembléia Itinerante” (12)