Divina Misericórdia e o Sacerdócio (14)
No
Domingo depois da Páscoa celebra-se na Igreja Católica, por determinação no
Papa Beato João Paulo II como o Domingo da Misericórdia Divina. Antes, este
domingo foi chamado como Domingo “in Albis”, isto é “em branco”, porque neste
domingo, o primeiro da Páscoa, os batizados no Sábado Santo, depunham as vestes
brancas do batismo e revestiam-se nos trajes usuais. Esta tradição proveniente
dos primeiros séculos do cristianismo hoje, perdeu o seu sentido, por isso o
Papa João Paulo II instituiu este domingo como o domingo da Misericórdia
Divina, que mais expressa os frutos da Páscoa do Senhor.
A
partir da Encíclica “Dives in Misericordia” =
“ Deus que é rico em misericórdia”, o culto da Misericórdia Divina
espalhou-se no mundo inteiro. Mais ainda, depois da beatificação e canonização
da Apóstola da Misericórdia Divina a Ir. Faustina Kowalska, a religiosa polonesa,
que teve a revelação para pintar o
quatro de Jesus Misericordioso, com a inscrição “Jesus eu confio em Vós”, este
culto tomou conta do mundo inteiro.
De
fato, este domingo mais se presta para recordar, na perspectiva da Páscoa, a
Misericórdia Divina para com a humanidade.
O
Papa João Paulo II, na Encíclica acima citada sobre a Misericórdia Divina,
dedica um capítulo inteiro refletindo a misericórdia divina no Mistério
Pascoal. Lembra a todos, a Misericórdia divina revelada na Cruz e na Ressurreição
de Jesus. Diz o Papa: “O mistério pascal é Cristo no momento mais alto da
revelação do imperscrutável mistério de Deus. E precisamente então que se
verificam plenamente as palavras pronunciadas no Cenáculo: "Quem me vê, vê
o Pai". De fato, Cristo a quem o pai "não poupou" em favor do
homem e que na sua paixão e no suplício da cruz não encontrou a misericórdia
humana, na sua ressurreição revelou a plenitude daquele amor que o Pai nutre
para com ele e, nele, para com todos os homens”.
E
afirma o Papa mais adiante que, “Cristo pascal é a encarnação definitiva da
misericórdia, o seu sinal vivo: histórico-salvífico e, ao mesmo tempo, escatológico.
Neste mesmo espírito a Liturgia do tempo pascal coloca em nossos lábios as
palavras do salmo: Cantarei para sempre as misericórdias do Senhor. Sl 89”(Dives
In Misericordia 8).
A
misericórdia Divina contemplamos também na Ceia do Senhor, quando ele institui
a Eucaristia para estar convoco para sempre: “Eu estarei convoco todos os dias
até o fins dos tempos” (Mt 28,29). Institui a Eucaristia, sinal permanente da
sua misericórdia, esperando sempre por
aqueles que o querem encontrar na Eucaristia. Manso, paciente e Misericordioso
abre o seu coração para nos escutar e atender.
Mas
para que não nos falte a Eucaristia, institui também o sacerdócio. Os sacerdotes
são homens escolhidos por Deus e colocados para o povo para serem instrumento de
Deus e mediadores entre Deus e o povo. A
essência do sacerdócio consiste na celebração da Eucaristia. No altar, quando o
sacerdote celebra a Santa Missa ele age em pessoa do próprio Jesus Cristo e realiza
este grande milagre que Jesus fez na última ceia, transformando o pão no Corpo
de Cristo e o vinho no seu sangue. O Mistério inaudito, mas é real. Ai está a
grandeza de cada sacerdote. O sacerdote pode até ser um pecador, mas quando age
no altar em pessoa de Cristo, realiza a Eucaristia. De novo, o mistério
inaudito, mas real.
Precisamente
na véspera do Domingo da Misericórdia a Diocese de Itabuna se alegra com a
grande graça de Deus de receber mais um sacerdote.
No dia 14 de abril será ordenado sacerdote, o diácono Esequias Gonçalves dos Santos.
A ordenação acontecerá na Paróquia de Uma, a paróquia natal do neo-sacerdote. A
celebração será presidida pelo bispo diocesano, Dom Ceslau Stanula com a
presença de numerosos padres e leigos. A Comunidade de Uma está vibrando de
alegria, porque é o primeiro sacerdote que sai desta comunidade. A comunidade
da qual provem o sacerdote é a comunidade privilegiada e abençoada por Deus.
A
Diocese parabeniza ao neo-sacerdote e deseja o frutuoso trabalho pastoral entre
o povo de Deus. “ Tu es Sacerdote para
sempre” para não faltar a Eucaristia, o sinal visível da Divina Misericórdia.
Dom Ceslau Stanula CSsR
Bispo Diocesano
Cristo Ressuscitou – Páscoa (13)
Após a Quaresma vivida em profunda meditação da Paixão,
Morte de Cristo chegou o dia mais solene da cristandade em que se celebra a
Ressurreição de Jesus. A Semana Santa nos permitiu aprofundar mais os acontecimentos
vividos pelo Povo de Deus que prefiguram a Páscoa de Jesus. Para entender
melhor a Páscoa vejamos a origem da mesma.
O
termo “páscoa” é a transcrição grega e latina do original hebraico “pesah” e do
aramaico “pasha” que remetem ao verbo “pasah”, que significa “passar”, “saltar”.
A
celebração da festa da Páscoa está no centro da experiência do povo do Antigo
Testamento, porque constitui o memorial do acontecimento
fundador da história do povo de Deus que foi o êxodo do Egito e a aliança
com Deus, que auto-comunicou o seu nome como Iahweh, que significa: aquele que É, e como sinal tangível de sua presença no meio de seu
povo.
O
Deus apresentado na Bíblia do Antigo Testamento é um Deus que está próximo do
povo, que caminha com o povo, mas que ao mesmo tempo em que é o Deus, Ele está
acima do tempo e do espaço. O nome de Deus como Iahweh, foi revelado pela
primeira vez a Moises. (Ex.6, 2-3)
A
celebração do rito pascal, tal como nos transmite o livro do Êxodo (cf.
12,1-13; 16), reúne dois ritos procedentes, de fontes distintas: o rito da
imolação do cordeiro primogênito, que constituía uma festa dos pastores, que na
primavera aspergiam com o sangue de um cordeiro as vigas de suas tendas, para
proteger os homens e os animais dos espíritos maus; é o rito dos pães ázimos,
rito agrícola da primavera, em que os camponeses ofereciam os primeiros frutos
de suas colheitas. Estes dois ritos arcaicos ficam unificados e situados no
contexto histórico-salvífico do êxodo do Egito e do estabelecimento da aliança
com Iahweh. Desta maneira, o antigo rito nômade do cordeiro se converte no
sinal e no rito memorial da passagem do povo da escravidão do Egito para a
liberdade. Com efeito, a série de
prescrições que são dadas no livro do Êxodo é concluída com a solene declaração:
“É a páscoa do Senhor (...). Este dia será para vós um memorial. Vós o celebrareis
como festa do Senhor, de geração em geração o celebrareis como rito
perene" (Ex 12,11.14). Jesus confirma estes ritos do Antigo Testamento e
lhes da um verdadeiro significado.
Dentro
desta perspectiva, Jesus se identifica com o Cordeiro pascal que, sacrificado,
dá a vida aos homens, que toma sobre si os pecados da multidão. Enquanto a
Páscoa se converte na passagem de Jesus deste mundo ao Pai (cf. Jo 13,1), ao
mesmo tempo para o Povo de Deus, na passagem da escravidão para a liberdade. Tudo
isto se expressa claramente nas palavras do pão e do vinho: o pão se converte em
seu Corpo, em sinal do dom da vida: o vinho, no seu Sangue, é o instrumento da
comunhão entre Deus e os homens. À luz da última ceia, por conseguinte, o
acontecimento pascal de Jesus adquire o significado especial do estabelecimento
definitivo da nova aliança e da chegada do reino de Deus anunciada por ele.
Possui também significado da plena auto-comunicação de Deus com os homens.
Revela o amor de Deus, e ainda mais, o próprio Deus que é Amor. (“Jesus, depois
de haver amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”: (Jo 13,1). (Veja
Dicionário Teologico – o Deus Cristão – Pascoa – Paulus 1998).
Depois
desta exposição teológico-bíblica da Páscoa olhemos a nossa realidade
cotidiana.
Páscoa
nos nossos tempos também deve ser a passagem da escravidão das amarras deste
mundo para a liberdade de filhos de Deus. A Campanha da Fraternidade 2012 nos mostrou, que infelizmente muitos Filhos de
Deus ainda não vivem a sua dignidade de pessoas humanas, porque as
amarras do pecado em que está envolvido este mundo não lhes permite ser livres. Apesar de que existem
muitos planos, e organizações de saúde, com os melhores princípios, como SUS,
por exemplo, e que deviam garantir a vida para muitas pessoas, isto não
acontece. A causa de tudo é o pecado da
ganância e corrupção, que ainda espera a redenção (conversão), não de Deus, mas
dos homens. Jesus da sua parte fez tudo, morreu por todos, mostrou o caminho da
salvação a todos, para que todos tivessem a vida e a tivessem em abundância (Cf.
Jo.10,10). A CF durante toda a Quaresma nos lembrava o texto da Sagrada Bíblia:
“Para que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo 38,8). O que se conseguiu com
ela? Será que os governos realmente apliquem do dinheiro dos impostos para a causa mais vital que pode existir neste
mundo que é a saúde?
Jesus morreu na cruz, para que nós tivéssemos a
vida. Itabuna desde o início do ano 2012 já teve mais que 50 mortes
matadas!!!!!!!!! Até quando estaremos vivendo nesta escravidão do medo, da
insegurança e da violência? Os índices de violência, de modo especial entre os
jovens em Itabuna, ultrapassam todos os possíveis e toleráveis índices neste
mundo! Até quando! Quando por fim chegue para nós o dia da PÁSCOA, a LIBERTAÇÂO
desta escravidão?
Jesus
fez já tudo o que dependia dele, agora é a nossa vez. A Salvação que Jesus nos
mereceu não consiste só na vida feliz, depois
da morte, mas também na vida digna neste
mundo. E isto depende agora só de nós! Jesus Cristo nos mostrou o caminho e
nos deu o exemplo como consegui-la. Infelizmente muitos criaram os seus deuses:
deus da economia, deus do poder, e estes
deuses não salvam! Sou a voz que clama no deserto!
Para
todos os nossos leitores da coluna Voz que Clama e a todos de boa vontade
desejamos uma feliz e Santa Páscoa.
Dom Ceslau Stanula CSsR
Bispo de Itabuna.
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Campanha da Fraternidade 2012 e “Assembléia Itinerante” (12)
Com o Domingo de Ramos entramos na Semana Santa.
Semana chamada Santa, porque nesta revivemos e fazemos a memória dos maiores
acontecimentos da nossa salvação que é a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.
Entramos mais neste mistério por meio do nosso batismo. Graças ao batismo,
instituído por Jesus mergulhamos na vida
e morte de Jesus, porque Ele veio para nos elevar ao Pai, veio para atar de
novo o vinculo de amor rompido no início da historia da humanidade pelo pecado.
Quem pertence a Jesus Cristo pelo batismo fez opção por Ele e se comprometeu
seguir o seu ensinamento. A vida dos batizados é o chamamento a uma nova vida.
Para os batizados, o tempo da Quaresma e
principalmente da Semana Santa foi sempre uma nova oportunidade de recolocar a vida nos trilhos da Salvação e
renovar a aliança batismal. Foi o tempo
especial de conversão, de aprofundamento da fé e um processo de crescimento na
vida da Igreja como “casa da iniciação à vida cristã” (Diretrizes 37).
A conversão nós expressamos com a participação das
Celebrações da Semana Santa, e principalmente nos sacramentos da Confissão
(Penitência) e a Eucaristia.
No Brasil expressamos concretamente esta nossa
conversão vivendo a Campanha da Fraternidade. Porque depois da nossa conversão
pessoal, sentimos a necessidade de transformar toda a realidade que destoa do
Plano salvador de Deus, para que todas as pessoas possam ter a vida plena em
Jesus. A CF 2012 é itinerário especial de evangelizar, visando à vida dos
irmãos, principalmente os mais pobres que têm tão difícil acesso a saúde
pública. Por isso o tema do trabalho evangelizador na Campanha é a Saúde
Pública. Aqui se está questionando todo o sistema de saúde no país.
Se de um lado é o questionamento e a chamada de
atenção aos gestores da Saúde Pública, de outro lado é uma enorme ajuda ao Ministério de Saúde para cumprir a
sua missão. O ministro de saúde Dr.
Alexandre Padilha reconheceu este
esforço da CNBB e da Igreja católica em prol da saúde. Na abertura da CF em
Brasília ele agradeceu em nome do Ministério da Saúde, do Sistema único de Saúde (SUS) e do Conselho
Nacional de Saúde, pela escolha do tema, dizendo “ Agradecemos esse gesto da
CNBB por trazer a saúde, em especial a Saúde Pública, como tema central de reflexão
da Quaresma e durante toda a Campanha de Fraternidade. Sabemos que isso provoca
um debate permanente durante todo o ano na Igreja Católica e nas comunidades.
Não poderia ter o presente maior para SUS do que esta iniciativa da Igreja
Católica” disse o Ministro.
Realmente já sentimos o efeito desta “provocação” em
todos os setores da comunidade. Os gestores fazem um exame de consciência da
aplicação das verbas destinadas a saúde, o povo se mobiliza para fiscalizar e cobrar
os desvios.
Itabuna perdeu uma importante oportunidade da presença
da “Assembléia Itinerante” do Estado para debater com os deputados a questão
grave da saúde e outros problemas angustiantes. Pena mesmo, que se perdeu tanto
dinheiro com este ato sem nenhum resultado. Quem participou de perto e foi com
objetivos definidos voltou decepcionado. Ausência dos deputados dava na vista. Depois,
pouquíssimos estavam dando atenção ao colega que estava falando. Houve vaias,
certo, mas porque a Assembleia foi mais o ato de confronto de partidos
políticos do que de real preocupação com os problemas da região. Ninguém teve acesso
à palavra a não ser os deputados. Então
para que vieram aqui, se não quiseram ouvir o povo? Uma única coisa boa foi à
entrega da “Comenda Dois de Julho” para os que colaboraram com o
desenvolvimento da cidade e da saúde.
Eu esperava que se fosse um debate de um ou outro tema
de forma exaustiva e interativa entre os deputados e a sociedade, e que se
sintetizasse as questões em alguns claros propósitos para os deputados e para o Governo Estadual.
Mas nada disto aconteceu. É uma pena, porque Itabuna perdeu a oportunidade e os
deputados demonstraram que não estão muito preocupados com a real situação da
região. Pelo menos se tinha esta impressão. Fica então certa decepção e o
amarga confirmação que com os nossos problemas e principalmente, com o problema
de saúde, ficamos abandonados.
“Que a saúde se difunda sobre a terra”, fica como a
oração para que a misericórdia de Deus não nos abandone. Mas, a eleição vem
logo tanto para os vereadores e prefeitos como depois para os deputados. Esta
“Assembléia Itinerante” deu muito a pensar!!!
Neste domingo a Igreja nos propõe para a mediação um trecho
da carta aos Hebreus (5.7-9). Neste
trecho colhemos uma lição preciosa: Jesus não é
um Senhor sentado nos palácios,
desligado da situação real das pessoas.
Jesus não permaneceu nos céus,
contemplando as nossas angustias, mas tornou-se companheiro de viagem.
Percorreu o caminho da humilhação e da morte. Por tudo nisto podemos confiar
nele e aceitar o convite que nos faz para sermos discípulos missionários. Desta forma,
este trecho da Bíblia, nos convida a seguir o mesmo caminho de Cristo,
um caminho semeado de dificuldades sem desanimar. Ele percorreu o primeiro, por isso nos
compreende. Ele venceu as dificuldades e até a morte. Ressuscitou. Nós também
venceremos! Eis a nossa esperança. Boa e Santa Semana Santa.
Dom Ceslau Stanula CSsR
Bispo de Itabuna.
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Saúde Plena (10)
Quaresma é o tempo de reflexão para preparar-nos para
a Páscoa do Senhor. A mensagem de Jesus e a sua atitude nos oferecem a matéria
para esta meditação, para que possamos chegar a ter a vida e, a vida em plenitude.
Campanha da Fraternidade, sob o lema “que a saúde se difunda sobre a terra”
(cf. Eclo 38, 8), tem com o
objetivo de suscitar, a partir de uma reflexão sobre a realidade da saúde no
Brasil, um maior espírito fraterno e comunitário na atenção dos enfermos e
levar a sociedade a garantir a mais pessoas o direito de ter acesso aos meios
necessários para uma vida saudável.
O Papa Bento XVI na sua mensagem a nação brasileira
por motivo da Campanha de Fraternidade escreveu: “Para os cristãos, de modo
particular, o lema bíblico é uma lembrança de que a saúde vai muito além de um
simples bem estar corporal. No episódio da cura de um paralítico (cf. Mt
9, 2-8), Jesus, antes de fazer com que esse voltasse a andar, perdoa-lhe os
pecados, ensinando que a cura perfeita é o perdão dos pecados, e a saúde por
excelência é a da alma, pois «que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro,
mas perder a sua alma?» (Mt 16, 26).
Com efeito, as palavras saúde e salvação têm origem
no mesmo termo latino salus e não por outra razão, nos Evangelhos, vemos
a ação do Salvador da humanidade associada a diversas curas: «Jesus andava
por toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino
e curando todo o tipo de doença e enfermidades do povo» (Mt 4, 23)”
(Mensagem do Papa para CF 2012, no
Brasil). Então, como o Papa nos indica,
lembrando a mensagem de Jesus, que a plena saúde não consiste só na bem estar
corporal, mas principalmente na bem estar espiritual. Por isso se deve procurar também a cura da alma, pelos meios que ele nos havia
deixado na Igreja que são os sacramentos,
com o acento ao sacramento da
penitência de reconciliação. Por isso tantas vezes na Igreja ouvimos o convite
para fazer uma boa e santa confissão, que é a reconciliação com Deus e a com os
irmãos.
Esta pratica na Igreja Católica existe desde
sempre. Por isso, até entrou como um dos mandamentos da Igreja Católica: confessar-se ao menos uma vez ao ano e de preferência no tempo da Páscoa.
Os mais velhos se lembram e praticam, até
se cunhou uma expressão: eu fiz a Páscoa.
Isto significa que eu me confessei e comunguei no tempo pascoal.
Mas hoje tudo se relativizou, relativizou-se a
confissão, porque se relativizou o pecado. Por isso vemos na Igreja muitas
filas para receber a comunhão e quase nenhuma fila na procura da confissão. O
maior pecado de hoje é que perdemos o
sentido do pecado, disse o Papa Paulo VI. A saúde plena é a saúde da alma e
do corpo.
Estamos em pleno tempo de Quaresma, tempo de
reflexão meditação. A Quaresma questiona
a todos nós. E este ano, com a ajuda da Campanha da Fraternidade refletimos
sobre o campo concreto da nossa vida: a saúde pública. A CF 2012 sublinha a
importância do SUS, porque é o programa que realmente resolveria o problema de
acesso a saúde plena para todos, mas o impedimento está precisamente no pecado
dos homens, o desvio de verbas destinadas para a saúde para outros fins e até,
para os interesses particulares, privados, enriquecendo-se com a infelicidade
dos pobres. Por isso a CF também
questiona os gestores das verbas públicas destinadas para a saúde, para que
olhassem a sua consciência e se convertessem. É inadmissível o corte de verbas destinadas
para a saúde pública e desviá-las para outros fins, e muito mais grave, para os
fins particulares.
O outro crime é o desvio da verba destinada para
obras sociais, ou fazer as coisas paliativas, só para constar e para conseguir a
aprovação de contas, para não ficar com a “ficha suja”. É o
pecado contra o quinto mandamento: não matar e contra o sétimo mandamento: não
roubar.
Infelizmente, isto acontece na nossa sociedade em
que vivemos. Por isso, a Campanha da Fraternidade questiona, apela para as
consciências e os corações dos políticos, administradores públicos e seus
assessores, para a transparência na administração das verbas públicas destinadas
para a saúde e bem estar social.
Jesus antes de curar o paralítico, primeiro curou o
seu coração como lemos no Evangelista Mateus. (Mt 9, 2-8),
O Papa Pulo VI na Enciclica Populorum Progressio, citada na Mensagem para a Quaresma pelo Bento
XVI advertiu: “O mundo está doente. O seu
mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos...”.
O egoísmo toma conta da nossa sociedade. Às vezes se tem a impressão que a
pessoa tem valor enquanto serve aos interesses particulares.
“Convertei-vos e crede no Evangelho”, é a voz que
clama no deserto dos corações nesta quaresma e de modo especial neste ano 2012,
pela força do movimento da Campanha da Fraternidade. Por fim quebremos os
grilhões que escravizam tantos pobres dependentes da vontade de um ou outro
político, e a “saúde se espalhará por toda a terra brasileira”.
Dom Ceslau Stanula
Bispo de Itabuna******************
São José homem do silêncio (11)
Quem
é o São José? Não temos muitas fontes históricas que nos relatassem sobre esta
figura tão importante na historia da salvação. Sabemos que era o Esposo da Virgem Maria e o pai adotivo de
Jesus. Aparece na infância de Jesus conforme a narrativa de Mateus (1,16 ss) e
Lucas (2,41-51) e é descrito com um homem justo. Os dois evangelistas colocam a
figura de José na infância de Jesus, mas cada um de outro ponto de vista.
Mateus descreve de ponto de vista de José e Lucas descreve a infância de Jesus
de ponto de vista de Maria com José.
Na descrição de Mateus podemos perceber a grandeza da alma de José. Ele, noivo de
Maria, com o compromisso já firmado, mas antes de morarem juntos, percebe que
Maria está grávida. Não consegue na sua cabeça compreender por quê? De um lado
confia na sua amada noiva, mas de outro lado não consegue compreender porque
ela está grávida. Não quer nem admitir a falsidade de Maria. Esta dentro de um
dilema: se denunciar a Maria aos sumos sacerdotes, ela vai ser apedrejada.
Aceitar a situação, não tem nem como! Neste dilema é que lhe vem à ajuda pelo
caminho humilde de sonho, o caminho que tantas vezes Deus usou na historia do
povo de eleito. O Anjo lhe explica e esclarece a situação. Ele em silêncio
aceita o plano de Deus e deu, igual a Maria, o seu sim e o cumpre até as últimas conseqüências.
Na narração da infância de Jesus de Lucas, José
aparece sempre com Maria, como aquele que acompanha o Plano de Deus, cuida com
dedicação a sua família e a protege até ao extremo, fugindo a Egito; partilha a
angustia e preocupação de Maria, quando perderam Jesus na romaria anual a
Jerusalém, e a alegria quando o encontraram.
A genealogia de Jesus apresentada por Mateus (Mt
1,16) liga a José com a família real de David pela qual José entra na história
da salvação.
E só isto que nos apresentam as fontes históricas. O
resto que se atribui a José provem das
fontes chamadas apócrifos, como por exemplo, “Ata de São José” e outros. Não
estamos desprezando estas fontes, porque até os escritores da antiguidade, dos
primeiros séculos depois de Cristo, se servem deles, tais como Origens, Euzébio e São Cipriano, e fazem referência em suas
obras.
A Virgindade de Maria, a família de Jesus
sempre intrigava os investigadores. Tem varias lendas em torno desta questão,
para de um lado preservar a virgindade de Maria de outro não diminuir a grandeza da alma de José. Alguns, colocando
ao lado de Maria um velinho, homem de barba e com bastão florido, como marido,
resolveriam o problema do mistério.
Outros seguem outra lenda, tirada do documento apócrifo acima
mencionado. “Ata de São José”. Nesses “Atos” José teria se casado jovem e só
foi prometida a Maria quando já era viúvo. José teria tido, no primeiro casamento,
duas filhas e quatro filhos sendo o caçula chamado Tiago, que Jesus considerava
como irmão e com ele teria passado sua infância e parte de sua adolescência. E Maria
achou o menor Tiago na casa de seu pai e este estava triste pela perda de sua
mãe e Maria o consolou e o criou. Assim Maria é às vezes chamada de mãe de
Tiago. Com o passar dos anos o
José por mais da idade bem avançada nunca deixou de trabalhar, nunca sua vista
falhou e nunca ficava sem rumo, tonto é, que como se fosse um rapaz sempre
jovem , não lhe abandonavam as forças e o vigor, e suas pernas e braços
permaneceram fortes e livres de nenhuma dor.
Mas estas especulações não têm fundamento sólido nos
documentos, aos quais a ciência teria acesso neste momento.
O culto de José no ocidente desenvolveu-se um pouco
mais tarde. Já no segundo milênio da cristandade. Em 1479 ele foi colocado no
calendário Romano com sua festa a ser celebrada em 19 de março. São Francisco
de Assis e Santa Teresa d`Avila ajudaram a espalhar a devoção, e em 1870 José
foi declarado patrono universal da Igreja pelo Papa Pio IX. Em 1889 Papa Leão
XIII o declarou patrono da justiça social. O Papa Pio XII estabeleceu uma
segunda festa para São José, a festa de "São José Operário" em
primeiro de maio. O Papa João XXIII
inseriu seu nome nas Orações Eucarísticas
- Canon Romano. Ele é considerado pelos devotos como padroeiro dos
carpinteiros e na Arte Sacra da Igreja ele é mostrado como um homem velho com
um lírio, e algumas vezes com Jesus ensinando a Ele o ofício de carpinteiro.
Em sonho, Deus comunicou a José sua missão de ser
pai adotivo de Jesus. Ele fez como Nossa Senhora: Aceitou humildemente a nobre
missão. José é o justo e o homem do silêncio. Não há, nos Evangelhos, nenhuma
palavra sua, mas cumpriu digna e santamente a vontade divina. Deus o fez participe
da redenção de Cristo. Por isso com
gratidão e alegria, nós O reverenciamos na Liturgia, que é o culto público, dando graças ao Deus Pai por tê-lo chamado a
assumir com Maria a encarnação de Jesus. Com ele damos graças a Deus por todos os justos e santos deste mundo (Deus
Conosco - Introdução para a Celebração da festa de São José).
Dom Ceslau Stanula CSsR
Bispo de Itabuna
Ano Novo, novas esperanças. (1)
Iniciamos
o ano Novo 2012. Iniciamos com a benção de Deus e a proteção da sua Mãe Maria,
a Mãe de Deus. O primeiro dia do ano nós
os católicos confiamos a Mãe de Deus. E não só os católicos que confiam e
veneram a Maria como a Mãe de Deus, mas os protestantes, seguindo os seus
fundadores Lutero, Calvino ou Zwinglio, veneram também e prestam a Ela a sua homenagem.
O Martins
Lutero no seu comentário a Magnificat escreve: “Quem são todas as mulheres,
servos, senhores, príncipes, reis, monarcas da Terra comparados com a Virgem
Maria que, nascida de descendência real (descendente do rei Davi) e, além
disso, Mãe de Deus, a mulher mais
sublime da Terra? Ela é, na cristandade inteira, o mais nobre tesouro depois de
Cristo, a quem nunca se poderá exaltar o suficiente, a mais nobre imperatriz e
rainha, exaltada e bendita acima de toda a nobreza, com sabedoria e santidade”
(Martinho Lutero, ''Comentário do Magnificat'', cf. escritora evangélica M.
Basilea Schlink, revista ''Jesus vive e é o Senhor''). E o João Calvino escreve: “Firmemente creio,
segundo as palavras do Evangelho, que Maria, como virgem pura, nos gerou o
filho de Deus e que, tanto no parto como após parto, permaneceu pura e íntegra”
(Zwinglio, em Corpus Reformatorum). Assim todos estamos professando a mesma fé,
reconhecendo que Maria é a Mãe de Deus, e é isto que a Igreja proclama neste
primeiro dia do ano, no dia da Paz. Maria é a Mãe de Deus.
O
sentimento anti-mariano - lemos no site da Google sob o titulo “Lutero amava a
Mãe de Deus” - que presenciamos entre alguns protestantes não faz parte do
verdadeiro ideal da Reforma, mas surgiu pelo falso receio de que o “brilho” de
Maria pudesse sombrear ou apagar a verdadeira Luz, que é Jesus Cristo. Graças a
Deus, hoje podemos enxergar mudanças em fiéis e teólogos evangélicos,
reconhecendo o verdadeiro sentido e valor da Santa Mãe de Deus, tal como
defende a Igreja Católica. As citações, feitas por Lutero e Calvino, reais
fundadores do Protestantismo, e outros teólogos sérios, denotam o verdadeiro
respeito, carinho e amor que todo cristão deve nutrir pela Mãe de Jesus. A Ela
confiamos os destinos deste novo ano 2012 para que Ela direcione tanto a nós
como as nossas ações a Jesus, o único
Salvador do mundo.
Como
já se tornou a tradição, desde o Papa Paulo VI, para este dia da Paz o Papa
Bento XVI mandou a mensagem especial. O tema da reflexão do Papa partilhado
conosco é: Educar os jovens para a
justiça e a Paz. Nesta Mensagem o Papa aposta na juventude.
Logo
no início o Papa esclarece que “Queria, pois, revestir a Mensagem para o XLV (quadragésimo quinto)
Dia Mundial da Paz duma perspectiva educativa: « Educar os jovens para a
justiça e a paz », convencido de que eles podem, com o seu entusiasmo e
idealismo, oferecer uma nova esperança ao mundo” (1). O Papa volta a sua
atenção aos jovens quando bem orientados, se tornam verdadeiros construtores da
paz. Mas não só se dirige aos jovens, mas também “aos pais, às famílias, a
todas as componentes educativas, formadoras, bem como aos responsáveis nos
diversos âmbitos da vida religiosa, social, política, econômica, cultural e
mediática. Prestar atenção ao mundo juvenil, saber escutá-lo e valorizá-lo para
a construção dum futuro de justiça e de paz não é só uma oportunidade mas um
dever primário de toda a sociedade” (idem)
Depois
o Papa se dirige aos responsáveis pela educação que são: a família, como a “primeiro
escola onde se educa para a justiça e a paz” (2). Segundo, as instituições
educativas, que são as escolas as universidades. E aqui o Papa apela a classe
política: “aos responsáveis políticos, pedindo-lhes que ajudem concretamente as
famílias e as instituições educativas a exercerem o seu direito-dever de
educar. Não deve jamais faltar um adequado apoio à maternidade e à paternidade.
Atuem de modo que a ninguém seja negado o acesso à instrução e que as famílias
possam escolher livremente as estruturas educativas consideradas mais idôneas
para o bem dos seus filhos” idem).
A
seguir o Papa indica o objetivo da educação que é a liberdade, e esta só se compreende adequadamente em relação com
Deus; para a justiça, “a justiça não
é uma simples convenção humana, pois o que é justo determina se originariamente
não pela lei positiva, mas pela identidade profunda do ser humano”; para a paz. “A paz, porém, não é apenas dom a
ser recebido, mas obra a ser construída. Para sermos verdadeiramente artífices
de paz, devemos educar-nos para a compaixão, a solidariedade, a colaboração, a
fraternidade”.
E
termina o Papa a sua mensagem educativa com o tom de esperança: “A todos,
particularmente aos jovens, quero bradar: « Não são as ideologias que salvam o
mundo, mas unicamente o voltar-se para o Deus vivo que é o nosso criador, o
garante da nossa liberdade, o garante do que é deveras bom e verdadeiro” (6).
Confiando na proteção de Nossa Senhora a Mãe
de Deus e nossa, seguindo a orientação do nosso líder espiritual o Papa Bento
XVI, entremos no Novo Ano 2012 com muita esperança e amor.
Feliz
Ano Novo 2012.
Dom Ceslau Stanula CSsR
Bispo de Itabuna.
Obras de misericórdia (2)
Jesus
veio para salvar os homens e todos os
homens. Mas veio salvar também todo o
homem. Assim compreenderam a sua missão os apóstolos e os discípulos de
Jesus. A preocupação da Igreja, desde os seus primórdios era a pessoa humana em
toda a sua dimensão, tanto espiritual como material. O Apóstolo Paulo, sentindo
a necessidades materiais dos irmãos de Jerusalém, incentiva outras comunidades para fazerem coleta e
mandar a ajuda para Jerusalém. (Veja Rom 15,26; 1 Cor 16, 1-2).
Assim
compreendeu a Igreja a sua Missão evangelizadora. Os missionários saindo para
as terras da missão a suas primeiras
preocupações foram construir uma
capela para o lugar do culto, construir uma
escola, para instruir e ensinar e um hospital para curar os doentes e fazer o
trabalho preventivo contra as doenças. Podemos confirmar esta prática na
história do Brasil e da América Latina.
Esta
preocupação para com as pessoas, à luz da revelação divina, codificaram, em,
hoje ensinadas no catecismo, obras de
misericórdia corporais e espirituais.
As
obras de misericórdia corporais são: Dar de comer a quem tem fome; 2. Dar
de beber a quem tem sede; 3.Vestir os nus; 4. Dar pousada aos peregrinos; 5.
Visitar os enfermos e encarcerados; 6. Remir os cativos; e 7. Enterrar os
mortos. Obras de misericórdia espirituais
são: 1. Dar bom conselho; 2. Ensinar os que não sabem; 3. Corrigir os que
erram; 4. Consolar os aflitos; 5. Perdoar a injuria; 6. Sofrer com paciência as
fraquezas do próximo; 7. Rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos.
As
obras de misericórdia são a base da doutrina Social da Igreja nos dias de hoje.
Se a Igreja está tomando a posição em algumas questões materiais, denunciando a
injustiça e o abandono material e social das pessoas, cumpre a sua própria
missão evangelizadora.
A
base destas obras de misericórdia a Igreja Católica fundava hospitais.
Surgiram, pois as Santas Casas de Misericórdia, aonde se procurava atender as
necessidades mais urgentes do povo, principalmente na área de saúde. Assim
surgiu em Itabuna a Santa Casa de
Misericórdia fundada pelo Mons. Moyses, como primeiro administrador e
provedor.
No
sábado, dia 7 de janeiro deste ano de 2012 foi empossado o novo provedor Dr. Éric
Ettinger de Menezes, substituindo o Dr. José Renan Oliveira Moreira. A cerimônia de posse
precedeu à entrega da “Comenda Monsenhor Moyses” as pessoas que se destacaram no
serviço de atendimento ao povo na Santa
Casa de Misericórdia. Foram condecorados a Ir. Zélia Fonseca, Dr. João Otávio
Macedo e a Dona Lourdes Alves.
Um
dos pontos essenciais da pose foi o juramento sobre a Sagrada Bíblia de cumprir
o Estatuto e trabalhar com afinco para o bem dos que procuram o serviço na
Santa Casa de Misericórdia.
Eu,
segundo o Estatuto da Instituição, como Presidente, expressei o meu pensamento
e apoio nestes termos. Cito aqui integramente o meu discurso: (depois da
saudação as autoridades e os membros da mesa):
Neste
meu curto pronunciamento quero: Agradecer e parabenizar ao Dr., Renan Moreira por quatro anos de provedor desta Santa Casa
de Misericórdia, pelo seu dedicado trabalho em favor da Santa Casa de
Misericórdia, para que ela fosse cumpridora da sua Missão a qual foi fundada.
Muitos
são as obras realizadas durante a sua gestão. Basta lembrar: 1) a
incorporação do Hospital de São Lucas à instituição para atender, de modo
especial os mais pobres e carente. 2) A ampliação dos serviços de Alta
Complexidade para oferecer os serviços na área de cardiologia, realização de transplantes etc. 3) e para
humanizar a medicina e atendimento, ressurgimento do papel, (porque estava no
estatuto), as Irmãs Auxiliadores, que
visitam os doentes levando a eles o conforto e ânimo.
Quero
parabenizar ao Dr. Éric Ettinger de Menezes e o seu Conselho pela eleição e ao
mesmo tempo desejar o frutuoso serviço como provedor desta já quase centenária
Santa Casa de Misericórdia de Itabuna,
procurando os recursos e investindo-os
para que cada dia, a Santa Casa possa oferecer os melhores serviços para
as pessoas. Desejo lhe para que no centro da sua atenção, em todos os seus
trabalhos e esforços, seja a pessoa
humana em todas as suas dimensões.
Finalmente,
gostaria lembrar a identidade da Santa Casa de Misericórdia que é a Instituição Católica. O Estatuto, Art. 4 § Único diz: “Como Irmandade Católica
que o é, a Santa Casa de Misericórdia de
Itabuna submete-se às normas da fé e de moral emanados do Magistério
Eclesiástico, através da autoridade diocesana local (do Bispo Diocesano). E no
Art. 5 A Padroeira da Irmandade e a Virgem Santíssima, sob a invocação de Nossa Senhora das Dores, cuja festa será celebrada
anualmente, na sexta feira, do Domingo da Paixão”.
Assim
sendo, devemos seguir a intenção do fundador da Santa Casa Mons. Moyses, e
conservar a sua identidade como a Instituição Católica.
Isto
significa que os profissionais que são contratados para prestar um serviço,
devem concentrar-se em prestação dos serviços dentro da sua profissão,
respeitando a identidade da Instituição. Por isso é vetado todo tipo de proselitismo.
Os enfermos das outras religiões que não são católicos e nos procuram, são
acolhidos com todo amor e sem nenhuma diferencia, como qualquer outro enfermo. Os
seus pastores e irmãos na fé, visitando estes doentes têm toda a liberdade de atendê-los
na sua religião, mas nas manifestações publicas de sua religião, dentro da Instituição, devem respeitar a identidade católica da mesma.
Desejando
um frutuoso serviço para o novo provedor Dr. Eric Ettinger.
Apelamos a todos
para apoiar e ajudar esta Instituição que tem como objetivo tão somente a vida e a vida em abundancia (J.10,10), sempre inspirando-se no lema da Santa
Casa : Deus Caritas Est.
Apelamos
especialmente aos poderes públicos, federais,
estaduais e municipais, para que cumpram as suas obrigações de servidores
públicos e apliquem as verbas destinadas
a saúde integralmente, e, até mais do que isto, generosamente, para a saúde do povo.
Frutuoso
serviço de Provedor Dr. Eric. (Sic).
A
Santa Casa de Misericórdia é o nosso patrimônio hoje reconhecido não só pelo
povo itabunense, mas por toda a região cacaueira, sul do Estado da Bahia e
Norte de Minas.
Que
Deus nos abençoe sempre e inspire em fazer o BEM, porque Ele é o Sumo Bem. Deus
caritas est – Deus é Amor.
Dom Ceslau Stanula
Bispo Diocesano.
Obras de Misericórdia na doutrina da
Igreja (3)
No
artigo anterior fiz a ligação da fundação da Santa Casa de Misericórdia de
Itabuna, que completa noventa e cinco anos de “fazer o bem” para a sociedade com as Obras de
Misericórdia corporais. As Santas Casas de Misericórdia são a expressão visível
da Doutrina Social da Igreja, que tem como a base o Evangelho de nosso Senhor
Jesus Cristo.
A Igreja, no Catecismo da Igreja Católica ensina: As obras de misericórdia são as ações caritativas pelas quais socorremos o próximo em suas necessidades corporais e espirituais. Instruir, aconselhar, consolar, confortar são obras de misericórdia espiritual, como também perdoar e suportar com paciência. As obras de misericórdia corporal consistem sobretudo em dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, dar moradia aos desabrigados, vestir os maltrapilhos, visitar os doentes e prisioneiros, sepultar os mortos (2447) .
A Igreja, no Catecismo da Igreja Católica ensina: As obras de misericórdia são as ações caritativas pelas quais socorremos o próximo em suas necessidades corporais e espirituais. Instruir, aconselhar, consolar, confortar são obras de misericórdia espiritual, como também perdoar e suportar com paciência. As obras de misericórdia corporal consistem sobretudo em dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, dar moradia aos desabrigados, vestir os maltrapilhos, visitar os doentes e prisioneiros, sepultar os mortos (2447) .
Assim,
podemos perceber que o Catecismo enumera duas categorias de obras de
misericórdia: espirituais e corporais.
Prestaremos conta no céu de obras de misericórdia praticadas aqui na terra, uma
vez que nascemos para fazer o bem.
O
que significa a obra? Significa a construção. Cada construção precisa de bons
alicerces e material de primeira, senão a obra cai. Obviamente que, Deus nos
quer santos e irrepreensíveis, que devemos buscar nossa intimidade com Ele.
Contudo, a busca da intimidade com Ele se expressa em obras de misericórdia.
O
Papa São Gregório Magno ensinava: “É
preciso satisfazer acima de tudo as exigências da justiça, para que não
ofereçamos como dom da caridade aquilo que já é devido por justiça. Quando
damos aos pobres as coisas indispensáveis, não praticamos com eles grande
generosidade pessoal, mas lhes devolvemos o que é deles. Cumprimos um dever de
justiça e não tanto um ato de caridade.”(CIC 2446)
Segundo
a doutrina católica, as boas obras são feitas
para agradar a Deus por amor e são a expressão
da vivência da verdadeira fé em prática. Esta fé em Jesus Cristo e nos
seus ensinamentos expressa-se no nosso desejo de praticar a virtude
da caridade,
o espírito de misericórdia e, assim cumprir a vontade de
Deus.
É
o próprio Jesus que diz: «nem todo aquele que me diz "Senhor, Senhor"
entrará no Reino dos Céus, mas aquele que pratica a
vontade de meu Pai que
está nos céus» (Mt 7, 21). Apesar de São Paulo
defender «que o homem é justificado pela fé» (Rom 3, 28 - 31), ele afirma também que
«Deus retribuirá a cada um segundo suas obras» (Rom 2, 6). Sobre este assunto, São Tiago
diz também que «o homem é justificado pelas obras e pela fé» (Tg 2, 24), ou então "pelas obras que
nascem da fé, porque a «fé sem obras é morta» (Tg 2, 17). Seremos julgados no
juízo particular conforme a prática destas obras.
O
Catecismo nos lembra a pratica das obras de misericórdia espirituais. Estes são: 1. dar o bom conselho; 2. ensinar
os que não sabem; 3. corrigir os que erram; 4. consolar os aflitos; 5. perdoar as injurias; 6. sofrer com paciência as fraquezas dos outros;
7. pedir a Deus pelos vivos e os mortos.
Infelizmente
poucos, até entre os católicos, estão ligando
a esta obrigação. Quantos males se
podiam evitar tendo ao lado um bom
conselheiro. Muitos crimes são cometidos conseqüência do mau conselho.
O
desconhecimento das verdades de fé, até dentre os católicos é assustadora. Não
falta oportunidade de aprofundar a fé. Basta querer.
No fim do ano passado tivemos em Itabuna a grande Missão Continental. Esta foi a excepcional oportunidade de aprender mais. Muitos, no entanto fecharam as portas das suas casas, e dos seus corações negando a entrada dos missionários em casa ou
apartamento, para ler a Bíblia e rezar.
Teríamos
mais alegria de viver na sociedade se houvesse mais perdão das ofensas e
injurias. Todos os dias rezamos o Pai
nosso: “... perdoai-nos as nossas ofensas (outra tradução - dividas), assim como nós
perdoamos...”. Falamos, mas não praticamos.
Assim
cada uma destas “Obras de misericórdia espirituais” é o caminho para a
construção da paz e do bem estar na sociedade.
A paz é o reflexo da vida interior do seu povo. Exemplo do cumprimento
destas assim codificadas “Obras de
Misericórdia” tanto corporais como espirituais é a pessoa de Jesus Cristo.
Sigamo-Lo.
Dom Ceslau Stanula
Bispo de Itabuna
O Espírito Santo na Igreja (4)
O Catecismo da Igreja
Católica nos ensina que “A vida moral dos cristãos é sustentada pelos dons do
Espírito Santo. Estes são disposições permanentes que tornam o homem dócil para
seguir os impulsos do mesmo Espírito” (CIC 1730). Jesus ao instituir a sua
Igreja quis permanecer e agir nela por meio do seu Espírito Santo. Ter,minada a
sua missão na terra, depois de subir ao céus cumpriu a sua promessa. No dia de
Pentecostes, aconteceu o milagre da vinda do Espírito Santo. Desde este momento
não deixa de agir e guiar a Igreja. “Eu estarei convoco até o fim dos tempos” (Mt
28,20).
O Espírito Santo foi nos
dado para nos conduzir pelo caminho da perfeição para que possamos mesmo
alcançar uma plena realização pessoal que é a felicidade completa, isto é a
salvação. São Paulo Apóstolo afirma: “Todos os que são conduzidos pelo Espírito
Santo são Filho de Deus” (Rom 8,14). Esta filiação de Deus se manifesta na
plena felicidade. O mesmo Paulo expressa isto logo no versículo 17 da mesma
carta aos romanos dizendo: “Filhos e, portanto herdeiros; herdeiros de Deus e
co-herdeiros de Cristo”.
O Espírito Santo age na Igreja por meio dos seus sete dos.
Mons. Jonas Adib, fundador
da Comunidade Canção Nova faz uma meditação sobre estes Dons e ao mesmo tempo
explica o seu conteúdo. Transcrevo esta meditação do site da Canção Nova.
Dom da sabedoria: Quando o Senhor nos dá uma palavra de profecia, de ciência, de discernimento ou qualquer revelação, temos de procurar discernir se aquilo que recebemos deve ser dito, quando deve ser dito e como deve ser dito. Porque alguns são afogueados. Receberam um dom, uma palavra de profecia, e a pessoa é tão apressada que já quer dizer. Mas você perguntou ao Senhor se essa palavra de profecia deve ser comunicada?
Dom do entendimento: O dom do entendimento, também chamado "dom da inteligência" ou "dom do discernimento", nos dá uma compreensão profunda das verdades reveladas, sem contudo nos revelar o seu mistério. Só teremos plena compreensão do mistério quando estivermos face a face com Deus. Por meio deste dom passamos a nos conhecer profundamente e a reconhecer a profundidade de nossa miséria.
Dom da sabedoria: Quando o Senhor nos dá uma palavra de profecia, de ciência, de discernimento ou qualquer revelação, temos de procurar discernir se aquilo que recebemos deve ser dito, quando deve ser dito e como deve ser dito. Porque alguns são afogueados. Receberam um dom, uma palavra de profecia, e a pessoa é tão apressada que já quer dizer. Mas você perguntou ao Senhor se essa palavra de profecia deve ser comunicada?
Dom do entendimento: O dom do entendimento, também chamado "dom da inteligência" ou "dom do discernimento", nos dá uma compreensão profunda das verdades reveladas, sem contudo nos revelar o seu mistério. Só teremos plena compreensão do mistério quando estivermos face a face com Deus. Por meio deste dom passamos a nos conhecer profundamente e a reconhecer a profundidade de nossa miséria.
Dom do conselho: O dom
do conselho, também chamado "dom da prudência", nos faz saber pronta
e seguramente o que convém dizer e o que convém fazer nas diversas
circunstâncias da vida. É um dom de santificação que nos faz viver sob a
orientação do Espírito Santo. Por ele, o Paráclito nos fala ao coração e nos
faz compreender o que devemos fazer. Agimos sem timidez ou incerteza. Pelo dom
do conselho, falamos ou agimos com toda confiança, com a audácia dos santos.
Dom da piedade: O dom da piedade é auxiliado por duas virtudes teologais: a da esperança e a da caridade. Pela virtude da esperança participamos da execução das promessas de Deus e, pela virtude da caridade, amamos a Deus e ao próximo.
Dom da fortaleza: O dom da fortaleza, também chamado "dom da coragem", imprime em nossa alma um impulso que nos permite suportar as maiores dificuldades e tribulações, e realizar, se necessário, atos sobrenaturalmente heróicos. A esse dom se opõe a timidez, que é o temor desordenado; e também aquele comodismo que impede de caminhar, de querer dar grandes passos.
Dom do conhecimento: É pelo dom do conhecimento que nos é concedido conhecer o verdadeiro valor das criaturas em relação ao seu Criador. Nós sabemos que o homem moderno, justamente por causa do desenvolvimento das ciências, é exposto particularmente à tentação em dar uma interpretação naturalista ao mundo. Isto acontece especialmente quando se trata de riquezas, prazer e de poder, os quais realmente podem ser obtidas das coisas materiais.
Dom do temor a Deus: O temor de Deus é um dom do Espírito Santo que nos inclina ao respeito filial ao Pai e nos afasta do pecado. Este compreende três atitudes principais: o vivo sentimento da grandeza de Deus e extremo horror a tudo o que ofenda sua infinita majestade; uma viva contrição das menores faltas cometidas; e um cuidado constante para evitar ocasiões de pecado.
Dom da piedade: O dom da piedade é auxiliado por duas virtudes teologais: a da esperança e a da caridade. Pela virtude da esperança participamos da execução das promessas de Deus e, pela virtude da caridade, amamos a Deus e ao próximo.
Dom da fortaleza: O dom da fortaleza, também chamado "dom da coragem", imprime em nossa alma um impulso que nos permite suportar as maiores dificuldades e tribulações, e realizar, se necessário, atos sobrenaturalmente heróicos. A esse dom se opõe a timidez, que é o temor desordenado; e também aquele comodismo que impede de caminhar, de querer dar grandes passos.
Dom do conhecimento: É pelo dom do conhecimento que nos é concedido conhecer o verdadeiro valor das criaturas em relação ao seu Criador. Nós sabemos que o homem moderno, justamente por causa do desenvolvimento das ciências, é exposto particularmente à tentação em dar uma interpretação naturalista ao mundo. Isto acontece especialmente quando se trata de riquezas, prazer e de poder, os quais realmente podem ser obtidas das coisas materiais.
Dom do temor a Deus: O temor de Deus é um dom do Espírito Santo que nos inclina ao respeito filial ao Pai e nos afasta do pecado. Este compreende três atitudes principais: o vivo sentimento da grandeza de Deus e extremo horror a tudo o que ofenda sua infinita majestade; uma viva contrição das menores faltas cometidas; e um cuidado constante para evitar ocasiões de pecado.
Estes
Dons nos
indicam o caminho para a felicidade. Seguindo-os recebemos do mesmo
Espírito Santo os seus frutos, que não as virtudes que nos fazem mais perfeitos
e mais humanos. Segundo a tradição da Igreja, estes são: a caridade, a alegria,
a paz, paciência, longanimidade,
bondade, benignidade, mansidão, fidelidade modéstia e castidade (Ver CIC 1832).
Estudo
da fé abre para todos novos horizontes. O estudo da mensagem de Jesus nos torna
os seus discípulos e missionários. O mundo espera de nós os crentes e católicos
a resposta: Ele mesmo para nós é o mestre e Senhor?
Dom Ceslau Stanula
Bispo de Itabuna.
Virtudes
humanas e teologais (5)
Quase difícil hoje alguém discursar sobre as virtudes. Que são as virtudes,
quais são estas virtudes. Por isso, seguindo o Catecismo da Igreja Católica
procuraremos nestes próximos artigos tocar este assunto tão importante e tão
pouco conhecido na prática, como são as virtudes humanas e teologais.
A virtude é uma disposição habitual e
firme de fazer o bem. “O fim de uma vida virtuosa consiste em se tornar
semelhante a Deus”, escreveu Gregório de Nissa.
Etimologicamente, a palavra virtude vem
do latim: virtus, virtute, virtutis, que
significa de vir, viril, força, vigor.
O Dicionário de Aurélio define a virtude
como uma disposição constante, habitual ou firme da alma que levam o homem a
praticar o bem ou a evitar o mal, equivalendo a uma força moral, disposição
firme e constante para a prática do bem. Força moral em oposição a vício, boa
qualidade moral; força moral; valor, legitimidade.
Então
virtude é o conjunto de todas ou qualquer das boas qualidades morais;
uma ação virtuosa; austeridade no viver; qualidade própria para produzir certos
e determinados resultados; propriedade, eficácia; validade, força, vigor. A
virtude caracteriza-se pela habitus, é a palavra latina que significa uma disposição para viver a virtude e a
maneira de ser adquirida . A virtude só será “habitus” se for retirado desta palavra todo significado rotina, de ação mecânica, automática. A virtude não é o proceder automático,
mas é o proceder consciente e voluntário. Aqui está a essência do termo da virtude.
A outra característica da virtude e
estar no meio, no equilíbrio. O latim o define na famosa frase: “in medio
(stat) virtus”, isto é, a virtude está no meio, no justo equilíbrio dos
extremos.
O Catecismo da Igreja Católica nos
ensina dizendo que:
“As virtudes humanas se fundam nas
virtudes teologais que adaptam as faculdades do homem para que possa participar
da natureza divina. Pois as virtudes teologais se referem diretamente a Deus.
Dispõem os cristãos a viver em relação com a Santíssima Trindade e têm a Deus
Uno e Trino por origem, motivo e objeto. As virtudes teologais fundamentam,
animam e caracterizam o agir moral do cristão. Informam e vivificam todas as
virtudes morais. São infundidas por Deus na alma dos fiéis para torná-los capazes
de agir como seus filhos e merecer a vida eterna. São o penhor da presença e da
ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano”. (CIC 1812-1813).
Podemos distinguir as virtudes
sobrenaturais e virtudes humanas. Na Igreja Católica, a partir da Sagrada
Bíblia, e da tradição patrística e mística, distingue-se as virtudes sobrenaturais ou infusas, isto é,
virtudes que alguém tem de natureza, que recebe de Deus, sem haver trabalhado
para adquiri-los, e as virtudes humanas, que incluem as virtudes morais e todas
as demais. A virtude sobrenatural é uma qualidade que Deus mesmo infunde na
alma, pela qual se tem propensão, facilidade e prontidão para conhecer e
praticar o bem, em ordem para conseguir a vida eterna.
As virtudes teologais são sobrenaturais
e tem por origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus. Os cristãos
acreditam que elas são infundidas na pessoa humana com a graça santificante, e
que elas as tornam capazes de viver em relação íntima com a Santíssima
Trindade. Elas fundamentam e animam o agir moral do cristão, vivificando e
fundamentando todas as virtudes humanas. Para os cristãos, as virtudes
teologais são o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades e
potencialidades do ser humano.
As Virtudes Teologais, são essencialmente
sobrenaturais, pois, além de serem dons divinos, dirigem-se a Deus nos seus
atos. Além de nos ajudar a praticar os atos de virtude necessários para o nosso
cotidiano, Deus nos infunde na alma virtudes tão especiais que nos levam à sua
intimidade, nos devolvem a imagem e semelhança divinas que perdemos pelo pecado
e nos levam a viver em profunda intimidade de amor e filial com Ele. Segundo o
ensinamento ordinário da Igreja Católica as virtudes teologais são infundidas
no homem com a graça santificante, tornam-nos capazes de entrar em relação com
a Trindade e fundamentam e animam o agir moral do cristão. Então as virtudes
teologais habilitam para a pessoa possa praticar e viver as virtudes humanas.
As virtudes teologais são três: fé,
esperança e amor. São Paulo
lembra as virtudes teologais na sua carta aos Coríntios: “Agora, pois,
permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor”
(1Cor 13,13).
Desde a Antiguidade cristã até por dias
de hoje, com base nas Escrituras, as virtudes teologais são aprofundadas pelos
Padres da Igreja e pelos místicos e escritores cristãos. Estes são o fundamento de todas as virtudes
humanas. Quem deseja aprofundar o tema das virtudes tem a vasta literatura.
Basta só citar o Dicionário da Espiritualidade, de Teologia ou consultar vários
sites na Internet.
Dom Ceslau
Stanula CSsR
Bispo de Itabuna
A Igreja Católica no Brasil em foco (6)
Três
grandes acontecimentos tocaram de perto da Igreja no Brasil nestes últimos
dias.
Primeiro, a nomeação no último Consistório, de dom João Braz de
Aviz, arcebispo emérito de Brasília e atual Prefeito da importante Congregação
(o que equivale, ministério) para ao Institutos Religiosos e de Vida Consagrada
na Cúria Romana. Dom João foi o único cardeal brasileiro nomeado pelo Papa
Bento VI, aliás, o único da América Latina, neste consistório. É uma distinção
especial para o Brasil ter o Cardeal na Cúria Romana, isto é, o mais próximo
conselheiro do Papa. No dia 18 de
fevereiro recebe o barrete cardinalício das mãos do Papa Bento XVI e continuará
servindo a Igreja na Congregação a qual foi constituído Prefeito.
Segundo acontecimento que toca a Igreja no Brasil foi a transferência do
Núncio Apostólico Dom Lourenzo
Baldisseri para Roma e a sua nomeação para o Secretário da mais
importante Congregação na Igreja que é a Congregação para os Bispos. O Senhor
Núncio passou quase dez anos no Brasil representando para nós o Papa. A função
do Núncio, em qualquer país, é a pastoral
e diplomática. Dom Lourenço se destacou como pastor zeloso pela Igreja no
Brasil. Nomeou mais que 250 bispos, criou varias Dioceses e Arquidiocese, visitou
mais que 150 dioceses, conversou com cada bispo varias vezes, sempre se fazia
presente nos momentos importantes na Igreja no Brasil.
Alem
da sua função pastoral desempenhou como diplomata, importante missão de interlocutor,
entre a Igreja e o governo brasileiro. Um dos mais importantes atos da
diplomacia de Dom Lourenzo, eu diria, mais importante da sua carreia diplomática
foi a elaboração e assinatura do Acordo entre
a Santa Sé e o Governo brasileiro que se deu no Vaticano no dia 11 de novembro
de 2008, assinado pelo Presidente Luis Inácio Lula da Silva e o Vaticano, sobre
a configuração jurídica da Igreja no Brasil.
No
seu tempo aconteceu a visita do Papa Bento XVI ao Brasil e a canonização do
primeiro Santo nascido no Brasil, o Santo Antônio de Santana Galvão em 2007. Na
anunciada Jornada Mundial da Juventude para o Brasil para o ano 2013, teve o
papel decisivo também o Núncio Apostólico.
Dom
Lourenço destacou-se ainda por ser um grande conhecedor da arte musical, sendo
pianista clássico de renome, tendo dado concertos em varias partes do Brasil
com aplauso de todos e com elevados elogios da crítica. Tocou para as platéias
refinadas, mas também para os pobres, como o vimos e eu assisti na Favela de
Alemão, no ano passado.
Gravou
o CD ao piano, cujo resultado de venda foi totalmente doado por ele para as
missões católicas na Amazônia. O segundo seu CD já está sendo preparado na
gravadora. Além disso, deixa para o Brasil uma seleta literatura jurídica,
especialmente do direito internacional.
O seu último livro “Acordo Brasil- Santa Sé, Comentários” foi editado
pela Editora LTr, e seu lançamento aconteceu
no dia 8 de fevereiro no Palácio Arquidiocesano João Paulo II, com a presença
do Governador do Rio, Prefeito do Rio, muitos deputados e senadores e mais que
110 bispos do Brasil.
É
muito difícil resumir em poucas linhas a amplitude das atividades do Núncio
Apostólico Dom Lourenzo Batldisseri. Deixará uma grande contribuição para a fé,
cultura e ciência no Brasil. O Brasil está muito grato a ele. Com justiça foi
condecorado, em 2008, em Minas Gerais, com a “Medalha da Independência” pelo governador
Aécio Neves.
Que
Deus lhe recompense e continue abençoando.
O terceiro acontecimento importantíssimo para a Igreja no Brasil foi o
lançamento da “Logomarca” da Jornada
Mundial da Juventude em Rio de Janeiro 2013. Participei pessoalmente do evento no
Palácio Arquidiocesano João Paulo II. O
evento contou com a presença das autoridades federais estaduais e municipais ,
alem de mais de 110 bispos do Brasil, sacerdotes, religiosas, jovens e a
sociedade do Rio de Janeiro. O evento foi o prenúncio do que será a Jornada
Mundial da Juventude. O “Logomarca” agora vai percorrer literalmente o mundo inteiro,
chamando atenção sobre o Brasil e convidando a conhecer a nossa religiosidade,
hospitalidade e a nossa cultura, levando
a fama do Brasil para todos os recantos deste planeta.
A Logomarca
foi criado pelo jovem estudante Gustavo Huguenin, do município de Nova
Friburgo. O tema central é “O Coração do Discípulo”. Ele mesmo explicou para
nós o seu sentido. Com a base do trecho do Evangelho de São Mateus, surge a
necessidade de referencia direta a Jesus Cristo e ao sentido do discípulo.
Neste sentido Jesus se encontra com os seus discípulos numa montanha, após sua
ressurreição. Como símbolo da cidade do Rio de Janeiro, o Cristo Redentor, o
Cristo também se encontra numa montanha (Corcovado) que é o monumento
reconhecido no mundo inteiro. O tema é uma palavra de ordem proclamada pelo
próprio Senhor Jesus e assim a sua imagem possui destaque no centro do símbolo.
O elemento do símbolo forma a imagem de um coração. Na fé do povo, o coração assumiu papel
central, assim como o Brasil será o centro da juventude na Jornada Mundial da
Juventude. Também designa o homem inteiro por inteiro, se tomando uma
composição a referência aos discípulos que possuem Jesus nos seus corações. Os
braços de Jesus ultrapassam o coração como o abraço acolhedor de Deus aos povos
e jovens que estão no Brasil. Representa nossa acolhida, como o povo do coração
generoso e hospitaleiro.
A
parte superior do Logo, em verde, foi inspirada nos traços do Pão de Açúcar,
símbolo universal do Rio de Janeiro, e a cruz contida nele reforça o sentido do
território brasileiro conhecido por Terra da Santa Cruz. As formas que
finalizam a imagem do coração possuem a cor azul, representando o litoral
somando ao verde e amarelo que transmitem a brasilidade das cores da bandeira
nacional.
Lindo
símbolo que desde ontem está percorrendo o mundo inteiro mobilizando a
juventude para conhecer e viver a fé no Brasil. Ao ver este símbolo contemple o
seu rico e profundo conteúdo, fruto de meditação de um jovem cristão católico.
Dom Ceslau Stanula
Bispo de Itabuna.
Rio de Janeiro, 09.02.2012.
As
Três Virtudes Teologais (7)
No intuito de aprofundar a fé procurarei
refletir neste artigo sobre as três virtudes teologais, isto é, aquelas que se
referem a Deus: Fé, esperança e caridade.
Teologal, significa referente a Deus. Vem da língua grega, da palavra theós – Deus, com a junção da outra
palavra grega: logos, que significa palavra, amor racional, sabedoria,
conhecimento. Assim estas três virtudes,
a saber, a fé, esperança e amor provem de Deus, portanto, são recebidas como um
dom de Deus, presente de Deus. Na ética religiosa a Fé, a Esperança e a
Caridade são chamadas teologais, porque não são elas produtos de um hábito,
pois não as adquirimos através de seu próprio esforço. Elas não são o produto
de uma prática, por um exercício, porque,
por exemplo, a pessoa pode praticar a caridade sem tê-la no coração; pode
exibir uma crença firme, sem alimentá-la em seu coração; pode tentar revelar
aos outros que é animado pela esperança, sem ressoar ela em sua consciência.
As virtudes teologais são sobrenaturais
ou infusas, isto é colocadas por Deus no coração da pessoa. Estes virtudes como
dissemos são três: fé, esperança e caridade.
A Fé
- Através
dela, os cristãos crêem em Deus, nas suas verdades reveladas e nos ensinamentos
da Igreja, visto que Deus é a própria Verdade. Pela fé, “o homem entrega-se a
Deus livremente. Por isso, quem acredita, procura conhecer e fazer a vontade de Deus,
porque “a fé age pela caridade” (Gl
5,6). A Fé é o assentimento do intelecto que crê, com constância e certeza, em
alguma coisa. Ninguém inventa dentro de si a Fé; ou a tem, ou não. Os dons do
espírito Santo, Temor de Deus, Ciência, Sabedoria e Entendimento, mais que os
demais, estão também diretamente ligados á virtude teologal da fé. Pecados ou
vícios contrários à fé seriam a descrença, a desconfiança, a infidelidade, a
irreverência, a blasfêmia, o ateísmo, a negação de Deus, a idolatria, a
mentira, o desespero, a desolação, a inquietude, e a ignorância de Deus.
“A fé é a virtude teologal pela qual
cremos em Deus e em tudo o que nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos
propõe para crer, porque Ele é a própria verdade. O discípulo de Cristo não
deve apenas guardar a fé e nela viver, mas também professá-la, testemunhá-la
com firmeza e difundi-la: “Todos devem estar prontos a confessar Cristo perante
os homens e segui-lo no caminho da Cruz, entre perseguições que nunca faltam à
Igreja. O serviço e o testemunho da fé são requisitos da salvação: “Todo aquele
que se declarar por mim diante dos homens também eu me declararei por ele
diante de meu Pai que está nos céus. Aquele, porém, que me renegar diante dos
homens também o renegarei diante de meu Pai que está nos céus” (Mt 10,32-33).
(Catecismo da Igreja Católica 1814—1816)
Esperança
- Por
meio dela, os crentes, com ajuda da graça do Espírito Santo, esperam a vida
eterna e o Reino de Deus, colocando a sua confiança perseverante nas promessas
de Jesus Cristo. A Esperança não é o produto de nossa vontade, mas de uma
sobrenaturalidade. e espontaneidade,
cujas raízes nos escapam, porque não é ela genuinamente uma manifestação da
pessoa humana, mas algo que se manifesta por nós, porque não encontramos na
estrutura de nossa vida biológica, nem da nossa vida intelectual, uma razão que
a explique.
O pecado contrário à esperança é o
desespero, quando alguém não consegue ver a esperança nas promessas divinas, e
a sua vida penetra num abismo sem sentido e sem rumo.
“A esperança é a virtude teologal pela
qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo
nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças,
mas no socorro da graça do Espírito Santo”, ensina o Catecismo da Igreja
Católica. (Veja CIC 1817-1821).
O Papa Bento XVI escreveu a sua
segunda Encíclica em 2007: “SPE SALVI facti
sumus” – É na esperança que fomos salvos”, sobre a Esperança onde expõe com profundidade
a virtude da esperança. Vale a pena estudar.
Caridade
ou Amor - Por
meio dela, “amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos
por amor de Deus. Jesus faz dela o mandamento novo, a plenitude da lei”. Para
os crentes, a caridade é “o vínculo da perfeição” (Cl 3,14), logo, a mais
importante e o fundamento das virtudes. O Amor é também visto como uma “dádiva
de si mesmo” e “o oposto de usar”. Paulo disse que, de todas as virtudes, “o
maior destas é o amor” (ou caridade). A Caridade é a mãe de todas as virtudes
como dizem os antigos, e diziam-no com razão: é a raiz de todas as virtudes,
porque ela é a bondade suprema para consigo mesmo, para com os outros, para com
o Ser Infinito. A caridade supera nossa natureza, porque graças a ela nós
avançamos além de nós mesmos, além das nossas exigências biológicas. Ligadas
diretamente à caridade, estão virtudes como: misericórdia, compaixão, piedade, perdão,
bondade e outras. Pecados ou vícios
contrários à caridade seriam inveja, intransigência, intolerância, impiedade,
vingança, agressão, opressão, desprezo, grosseria etc. “A caridade é a virtude teologal pela qual
amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós
mesmos, por amor de Deus” (Veja Catecismo da Igreja Católica 1822-1829).
Neste artigo só fizemos as grandes
pinceladas sobre estas virtudes tão importantes e realmente básicas para a vida
cristão. Os interessados podem aprofundar-se
neste tema olhando o Catecismo da Igreja Católica, como também os tratados
teológicos sobre estas virtudes. Resumos encontrarão nos Dicionários da
Teologia.
Vivamos
guiados com estas virtudes e encontraremos a paz e alegria.
Dom Ceslau
Stanula
Bispo Diocesano.
Quaresma e a Saúde Pública (8)
A Quaresma na Igreja
Católica sempre foi considerada como o tempo especial, o tempo de preparação
para a Páscoa do Senhor, a maior festa da cristandade.
Segundo a tradição
três atitudes caracterizam o cristão durante a Quaresma: oração, penitência e caridade. O trecho do Evangelho de Mt. 6,1-6;16-18,
que meditamos na Quarta Feira de Cinzas apontam estes três elementos. “A
oração, em “silêncio” – “...quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e
reza ao Pai que está oculto” (Mt6,6). A oração sempre foi considerada como a
comunicação com o Pai. Ela alimenta a nossa alma, ela cura nossos males
causados pelos pecados ela, renova a nossa esperança e da animo de viver.
A penitência, sempre
foi considerada como o meio para aperfeiçoar a vida espiritual, as relações interpessoais.
A penitência nos habilita para dominar sobre os nossos impulsos naturais. Pela
penitência aprendemos dominar e direcionar os nossos sentimentos. Dominando as
nossas inclinações sobre aquilo que podemos fazer, mas renunciamos no espírito
da penitência pelos valores maiores, com certeza teremos mais força de
renunciar aquilo, que por mais que se nos apresenta como agradável, mas
prejudica a dignidade de pessoa. (Toda classe de roubo, engano, corrupção...)
A caridade, chamada
também a esmola, cura os vícios de ganância e de egoísmo, abre o coração para
ver e perceber os que estão em nosso redor e nos sensibiliza para as suas
necessidades.
São estes remédios
que nos apresenta o Evangelho no início da Quaresma para curar os nossos males
espirituais, para curar o nosso coração, para que a nossa convivência
humana fosse segundo o plano de Deus.
Estas práticas nos devem levar a uma profunda conversão, que consiste em plena
e total adesão ao projeto de Deus.
Os textos bíblicos durante
a Quaresma voltarão nos lembrar o plano de Deus, que consiste na nossa
salvação, isto é uma plena e total realização pessoal desejada desde sempre por
Deus nosso Criados. Este Plano de Deus nos veio revelar o seu Filho Jesus
Cristo.
A Igreja Católica no
Brasil nos quer ajudar compreender ainda melhor este plano e comprometermos com
ele. Neste sentido promove já a Campanha
da Fraternidade. E é justamente na
Quarta-Feira de Cinzas, que acontece um dos principais eventos da Igreja
Católica no Brasil, o lançamento da Campanha da Fraternidade. A CF, como é
conhecida, está na sua 49ª edição, é realizada todos os anos e seu principal
objetivo é despertar a solidariedade das pessoas em relação a um problema
concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos e apontando
soluções. Neste ano de 2012 a Campanha da Fraternidade destaca a saúde pública
e suas variantes. Com o tema “Fraternidade e Saúde Pública”, e o lema “Que a
saúde se difunda sobre a terra” (cf. Eclo 38,8); a CF tentará refletir o
cenário da saúde no Brasil, conscientizando o Governo da precariedade de
condições dos hospitais e mobilizando a sociedade civil para reivindicar
melhorias. “Deseja assim sensibilizar sobre a dura realidade de irmãos e irmãs
que não tem acesso à assistência de Saúde Pública condizente com suas
necessidades e dignidade. É uma realidade que clama por ações transformadoras. A
conversão pede que as estruturas de morte sejam transformadas. A Igreja, nesta Quaresma,
à luz da Palavra de Deus, deseja iluminar a dura realidade da saúde pública e
levar os discípulos-missionários a serem consolo na doença, na dor, no
sofrimento e na morte. Ao mesmo tempo exigir que os pobres tenham um
atendimento digno em relação a saúde. Que a saúde se difunda sobre a terra, pois a salvação já nos foi alcançada pelo
Crucificado”. (Manual CF pag. 10).
O Papa Bento XVI escreveu
a Mensagem para o povo brasileiro sobre esta Campanha de Fraternidade. Ele
disse: “De bom grado me associo à CNBB que lança uma nova CF, sob o tema “que a
saúde se difunda sobre a terra” (Ecl. 38,8) com o objetivo de suscitar, a
partir de uma reflexão sobre a realidade da saúde no Brasil, um maior espírito
fraterno e comunitário na atenção dos enfermos e levar a sociedade a garantir a
mais pessoas o direito de ter acesso aos meios necessários para uma vida
saudável”
Para os cristãos, de
modo particular, o lema bíblico é uma lembrança de que saúde vai muito além de
um simples bem estar corporal. No
episódio de cura de um paralitico (Mt 9,2-8), Jesus, antes de fazer com que esse voltasse a andar, perdoa-lhe os
pecados, ensinando que a cura perfeita é o perdão dos pecados, e a saúde por excelência
é a da alma, pois “que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a
alma?”(Mt 16,26.
“Associo-me, – continua
o Papa - pois a esta iniciativa da CNBB e fazendo minhas as alegrias e as
esperanças, as tristezas e as angustias de cada um, saúdo fraternalmente
quantos tomem parte, física ou espiritualmente, na Campanha “Fraternidade e
Saúde Pública, invocando pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida – para
todos, mas especialmente para os doentes o conforto e a fortaleza de Deus no
comprimento do dever de estado, individual, familiar e social, fonte de saúde e
progresso do Brasil, tornando-se fértil na santidade, próspero na economia,
justo na participação das riquezas, alegre no serviço público e fraterno do
desenvolvimento” (Vaticano 11.02.2012 – Papa Bento XVI).
Desejo a todos que a
saúde seja difundida sobre toda a terra, e principalmente sobre a terra grapiuna.
Dom Ceslau Stanula
CSsR
Bispo de Itabuna
Vivência da quaresma dentro da
Campanha da Fraternidade (9)
“A Quaresma
oferece-nos a oportunidade de reflectir mais uma vez sobre o cerne da vida
cristã: o amor. Com efeito, este é um tempo propício para renovarmos, com a
ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e
comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e pela partilha,
pelo silêncio e pelo jejum, com a esperança de viver a alegria pascal”
(Mansagem do Bento XVI para a Quaresma 2012). O Papa chama atenção que a
Quaresma é o tempo “propício para renovarmos (...). o nosso caminho pessoal e
comunitário de fé”. O caminho pessoal, porque cada um é responsável pela sua
vida e pela sua felicidade, mas também comuniário, porque vivemos numa
sociedade, numa comunidade onde todos
dependemos um do outro.
O Papa reflete o texto tirado da Carta aos Hebreus “Prestemos atenção uns aos outros, para nos
estimularmos ao amor e às boas obras” (Heb 10,24). Esta frase está tirada do
trecho da carta donde o autor sagrada exorta para termos plena confiança em
Jesus Cristo como nosso Salvador, que nos obteve do Pai o perdão dos pecados.
A nossa obrigação é
acolher Jesus Cristo nosso Salvador que nos mandou o Pai. O fruto do
acolhimento de Cristo nos leva a viver a vida edificada segundo as três
virtudes teologais: a fé, esperança e o amor. O Papa reflete nesta Mensagem Quaresmal
sobre uma atitude que deve caracterizar a cada cristão: prestar atenção para o outro. E disse: “...
fixarmos o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estarmos atentos uns aos outros, a não nos mostrarmos alheios e
indiferentes ao destino dos irmãos.
Infelizmente percebemos com frequência, que entre nós prevalece a atitude contrária: a
indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência
de respeito pela “esfera privada”. O papa
nos mostra que muitas vezes não prestamos atenção aos outros, para não
sermos julgados de inconvenietes para com os outros, não entrar demais ao campo
de privacidade individual. Mas ele afirma: “Também
hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus
nos pede para sermos o “guarda” dos nossos irmãos (cf. Gn 4,9)”.
O Papa cita o
pensamento do Papa Paulo VI: “O mundo está doente. O seu mal reside mais na
crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização
ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo” (Carta Enc.
Populorum Progressio, 66).
Neste contexto
olhemos a Campanha da Fraternidade deste ano. A melhor forma de perceber o
outro é dar-lhe acesso a saúde.
O Texto base da CF
12 faz uma observação dizendo: “Ao longo dos últimos anos, houve mudança do
conceito da saúde: de “caridade” para “direito”. Hoje em dia, no entanto, este direito está sendo transformado em
“negócio”, num mercado livre sem coração! ”(258). Perceber o outro no dizer do
Papa na sua Mensagem Quaresmal é ressaltar que todos têm o mesmo direito para a
saúde, tanto os da boa condição de vida como os pobres.
O SUS não deve ser
traduzido como a instituição para os pobres, com o atendimento da segunda categoria.
Os planos de Saúde são umas empresas. Mas empresas diferentes de qualquer outras,
não devem visar em primeiro lugar o lucro, a base do sofrimento humano, mas o
bem da pessoa, a saúde. Tanto o SUS como os Planos de Saúde devem ter como o
objetivo principal atendimento da pessoa humana nas suas dores e sofrimentos
provocados pelas doenças e não o lucro financeiro. O dinheiro existe para o
homem e não o homem para o dinheiro.
O lema da CF 12 “Que
a saúde se difunda sobre a terra” é tirado da Bíblia, do livro do Eclesiástico 38,8. O livro
recolhe pensamentos e reflexões do povo sobre a vida humana. Neste capitulo o
autor sagrado reflete sobre a saúde do homem e o papel e a missão dos médicos e
de outros profissionais de saúde que buscam preservá-la. Porque se sabe que apesar do esforço e do
cuidado para evitar as doenças, as fragilidades do corpo e do espírito acabam
se revelando. O momento da doença é o
tempo de recorrer ao serviço da saúde, ao médico, como cita o texto bíblico,
sem hesitações, pois é o dom de Deus para a saúde. O médico é o dom de Deus para
a saúde! Também foi o Senhor que deu ao homem “a ciência”, por meio do qual o
médico cura, elimina a dor e o “farmacêutico prepara as formulas. (Eclo.38,5-6)
Deus providencia e coloca à disposição da humanidade todos estes dons para que
“a saúde se espalha sobre terra”. É a colaboração do homem com Deus.
O Dr. Jairo Xavier
Filho, conceituado cardiologista da cidade de Itabuna, me disse: admiro o corpo
humano. O organismo é como um aparelho perfeito, mas bastante complicado, que
Deus colocou neste mundo, em perfeito estado de funcionamento, mas, não nos deu
o manual de como consertar caso
falhar (adoecer). A medicina, com todos os seus avanços, não inventa nada de novo, mas
tão somente está descobrindo
(escrevendo) o manual do funcionamento deste aparelho. Não podia melhor
definir a maravilha que é o ser humano!
A saúde, sendo o bem
de todos, todos devem ter o acesso a ele por igual, tanto pobres como ricos,
seja pelo SUS, seja pelos Planos de Saúde. Todos devem ter acesso às
descobertas da medicina, para aliviar dores e prolongar a vida das pessoas para
que mesmo “a saúde se espalhe sobre a terra” (Eclo 38,8).
Dom Ceslau
Stanula
Bispo de
Itabuna.
Saúde Plena (10)
Quaresma
é o tempo de reflexão para preparar-nos para a Páscoa do Senhor. A mensagem de
Jesus e a sua atitude nos oferecem a matéria para esta meditação, para que
possamos chegar a ter a vida e, a vida em plenitude.
Campanha da Fraternidade, sob o lema “que a saúde se difunda sobre a terra” (cf. Eclo 38, 8), tem com o objetivo de
suscitar, a partir de uma reflexão sobre a realidade da saúde no Brasil, um
maior espírito fraterno e comunitário na atenção dos enfermos e levar a
sociedade a garantir a mais pessoas o direito de ter acesso aos meios
necessários para uma vida saudável.
O Papa Bento XVI na sua mensagem a nação brasileira por motivo da
Campanha de Fraternidade escreveu: “Para os cristãos, de modo particular, o
lema bíblico é uma lembrança de que a saúde vai muito além de um simples bem
estar corporal. No episódio da cura de um paralítico (cf. Mt 9, 2-8),
Jesus, antes de fazer com que esse voltasse a andar, perdoa-lhe os pecados,
ensinando que a cura perfeita é o perdão dos pecados, e a saúde por excelência
é a da alma, pois «que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a
sua alma?» (Mt 16, 26).
Com efeito, as palavras saúde e salvação têm origem no mesmo termo
latino salus e não por outra razão, nos Evangelhos, vemos a ação do
Salvador da humanidade associada a diversas curas: «Jesus andava por toda a
Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando
todo o tipo de doença e enfermidades do povo» (Mt 4, 23)”
(Mensagem do Papa para CF 2012, no
Brasil). Então, como o Papa nos indica,
lembrando a mensagem de Jesus, que a plena saúde não consiste só na bem estar
corporal, mas principalmente na bem estar espiritual. Por isso se deve procurar também a cura da alma, pelos meios que ele nos havia
deixado na Igreja que são os sacramentos,
com o acento ao sacramento da
penitência de reconciliação. Por isso tantas vezes na Igreja ouvimos o convite
para fazer uma boa e santa confissão, que é a reconciliação com Deus e a com os
irmãos.
Esta pratica na Igreja Católica existe desde sempre. Por isso, até
entrou como um dos mandamentos da Igreja Católica: confessar-se ao menos uma vez ao
ano e de preferência no tempo da Páscoa. Os mais velhos se lembram e
praticam, até se cunhou uma expressão: eu fiz a Páscoa. Isto significa que eu
me confessei e comunguei no tempo pascoal.
Mas hoje tudo se relativizou, relativizou-se a confissão, porque se
relativizou o pecado. Por isso vemos na Igreja muitas filas para receber a
comunhão e quase nenhuma fila na procura da confissão. O maior pecado de hoje é
que perdemos o sentido do pecado,
disse o Papa Paulo VI. A saúde plena é a saúde da alma e do corpo.
Estamos em pleno tempo de Quaresma, tempo de reflexão meditação. A
Quaresma questiona a todos nós. E este
ano, com a ajuda da Campanha da Fraternidade refletimos sobre o campo concreto
da nossa vida: a saúde pública. A CF 2012 sublinha a importância do SUS, porque
é o programa que realmente resolveria o problema de acesso a saúde plena para
todos, mas o impedimento está precisamente no pecado dos homens, o desvio de
verbas destinadas para a saúde para outros fins e até, para os interesses
particulares, privados, enriquecendo-se com a infelicidade dos pobres. Por isso a CF também questiona os gestores das
verbas públicas destinadas para a saúde, para que olhassem a sua consciência e
se convertessem. É inadmissível o corte de verbas destinadas para a saúde
pública e desviá-las para outros fins, e muito mais grave, para os fins
particulares.
O outro crime é o desvio da verba destinada para obras sociais, ou fazer
as coisas paliativas, só para constar e para conseguir a aprovação de contas,
para não ficar com a “ficha suja”. É o pecado contra o quinto mandamento: não
matar e contra o sétimo mandamento: não roubar.
Infelizmente, isto acontece na nossa sociedade em que vivemos. Por isso,
a Campanha da Fraternidade questiona, apela para as consciências e os corações
dos políticos, administradores públicos e seus assessores, para a transparência
na administração das verbas públicas destinadas para a saúde e bem estar
social.
Jesus antes de curar o paralítico, primeiro curou o seu coração como
lemos no Evangelista Mateus. (Mt
9, 2-8),
O Papa Pulo VI na Enciclica Populorum
Progressio, citada na Mensagem para a Quaresma pelo Bento XVI advertiu: “O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise
de fraternidade entre os homens e entre os povos...”. O egoísmo toma conta da
nossa sociedade. Às vezes se tem a impressão que a pessoa tem valor enquanto
serve aos interesses particulares.
“Convertei-vos
e crede no Evangelho”, é a voz que clama no deserto dos corações nesta quaresma
e de modo especial neste ano 2012, pela força do movimento da Campanha da
Fraternidade. Por fim quebremos os grilhões que escravizam tantos pobres
dependentes da vontade de um ou outro político, e a “saúde se espalhará por
toda a terra brasileira”.
Dom Ceslau Stanula
Bispo de Itabuna
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